A Arte como disseminadora da imagem deturpada da Bruxa
- Aline Pandora
- 18 de nov. de 2017
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A origem da abordagem histórica da Bruxa surgiu na época da Renascença e Reforma Européia, entre 1300 e 1700, na Itália, onde as Bruxas praticavam a chamada Bruxaria Diabólica (aquele tipo de bruxaria visto em filmes de Hollywood, como por exemplo, as Bruxas de Salem, 1996). Como já foi explicado anteriormente, essa visão deturpada da Bruxa se dá pelos anos de distorção das crenças e engano na definição da palavra Bruxa; importante ressaltar também, que essa deturpação também é proveniente do Cristianismo, que colocou a Bruxa como adoradora do Diabo – uma figura cristã que nem sequer existe dentro da Bruxaria, para servir de bode expiatório, poder político e religioso e manipulação de massa. Deixando de lado a romantização contemporânea da Bruxa e sem querer isentar as mesmas de culpa no ocorrido, afirmo que a Iconografia Renascentista, principalmente italiana, veio para contribuir e muito para essa imagem. Seria muito ousado da minha parte afirmar que a deturpação da imagem da Bruxa deu-se somente por um único motivo. Entretanto, na história da Arte podemos perceber a grande influência que algumas obras trouxeram para somar a essa visão destorcida. Nos anos de 1550 a 1630 (que foi o “boom” da Caça às Bruxas, chamada por muitos artistas da época como a “era de ouro da Bruxaria”), pintores Renascentistas desenvolveram obras que retratavam a Bruxa de uma forma pejorativa. Segundo estudos, a obra mais influente nessa seara são a do pintor alemão Albrecht Dürer. “Em um par de gravuras extremamente influentes, Dürer determinou o que se tornaria o duplo estereótipo da aparência de uma bruxa. Por um lado, como em The Four Witches (1497), ela poderia ser jovem - seus encantos físicos capazes de apaixonar homens. Por outro lado, como em Witch Riding Backwards on a Goat (c 1500), ela poderia ser antiga e horrível.” Fonte: http://www.bbc.com/culture/story/20140925-where-do-witchescome-from


O que intrigou os historiadores da Arte foi a inspiração que Dürer e seus sucedentes encontraram para produzir tais obras. Chegaram à conclusão que eles se pautaram na personificação da inveja e todo o tipo de sentimento/impressão negativa que a sociedade exprime e, ao mesmo tempo, tenta ocultar de si mesmos e do mundo à sua volta. Na época, até mesmo Rei James indagou: “por que havia uma tal proliferação de bruxas?” Todos assumiram que era porque o mundo ficou tão imundo que estava chegando ao fim. Com essa declaração, podemos comprovar a veracidade da citação de Jeffrey B. Russell, em seu livro História da Bruxaria. "Uma vez que essa pessoa é identificada como bode expiatório, a sociedade pode projetar sobre ela todo tipo de maldade que reprimiu em si mesma. Assim como as pessoas são passíveis de cometer erros (e de fato cometem) o erro de projeção negativa – atribuindo aos outros os sentimentos de hostilidade que têm dentro de si mesmas -, também as sociedades podem demonizar seus oponentes. A maior parte dos rancores e genocídios étnicos, políticos e religiosos deriva da demonização de oponentes. A projeção negativa é reforçada pela culpa, porque o bode expiatório precisa ser culpabilizado; caso contrário, a culpa de transformar alguém em bode expiatório deverá ser muito maior, quase insuportável para quem a projetou. Em tempo de dissolução de valores e deslocamento, a feitiçaria e a bruxaria também podem funcionar como catalisadoras de um foco e um nome concreto para inquietações difusas. Em tais condições, a criação de bodes expiatórios se torna intensa e amplamente difundida, como ocorreu na Europa durante à caça as bruxas, quando as inseguranças e os terrores da sociedade foram projetados sobre certos indivíduos que então eram torturados e mortos." Como podemos perceber, a Bruxaria é causadora de inúmeras revoluções, sejam elas políticas, religiosas, sociais ou artísticas. Com a vinda Dürer, muitos artistas aproveitaram a visibilidade do assunto para também colocarem em pauta suas obras com o mesmo enredo; obras essas que contam com muita misoginia e distorção de crenças antigas, porém não menos importantes tanto para a história da Arte quanto para a história da Bruxaria. As obras de Arte Renascentistas focadas nas Bruxas e suas crenças cresceram tanto que rendeu até uma exposição no British Museum em Londres, no ano de 2004: Witches e Wicked Bodies.

A partir do século XVIII, as Bruxas deixaram de ser uma ameaça para passarem a fazer parte das superstições e imaginário popular. Contudo, isso não impediu o pintor espanhol Francisco de Goya de reproduzir suas obras, que garantiam a ótica crítica e sarcástica. “Los Caprichos, a coleção de Goya de 80 gravuras caprichosas (ou caprichosas) a partir de 1799, usa bruxas, duendes, demônios e monstros como veículos de sátira. ‘Goya usa a feitiçaria metaforicamente para apontar os males da sociedade’, diz Petherbridge. ‘Suas impressões são realmente sobre coisas sociais: ganância, guerra, corrupção do clero’. Goya não acreditava na realidade literal das bruxas, mas suas impressões ainda estão entre as imagens mais poderosas da feitiçaria já feitas.” Fonte: http://www.bbc.com/culture/story/20140925-where-do-witchescome-from

As expressões artísticas baseadas na Bruxaria não ficaram somente no ramo das artes plásticas. Ainda no século XVIII, o ator suíço Henry Fuseli fez várias versões do famoso momento em que Macbeth (renomada obra de Shaskepeare) encontra as três bruxas pela primeira vez na charneca. No século 19, os pré-rafaelitas e os simbolistas foram atraídos para a figura da bruxa, que eles se reformularam como uma femme fatale. Mas suas sedutoras sinistras, indiscutivelmente, pertencem mais ao reino da fantasia sexual do que a alta arte. Seja qual for a forma de arte, uma das características marcantes das obras pautadas nas Bruxas é a misogenia e projeção de um bode expiatório.
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